A inovação no contexto acadêmico

 

A inovação é um processo evolutivo que inicia com a produção de conhecimento, avança pelo desenvolvimento tecnológico e culmina com o desenvolvimento de novos produtos, serviços ou processos. Na perspectiva de negócio, a inovação só se materializa se sua tecnologia for exequível, isso é, possível de ser executada. Já na perspectiva de financiamento; a universidade, o governo e as empresas investem recursos em diferentes pontos do desenvolvimento tecnológico, em um modelo conhecido como a "tríplice hélice da inovação".

 

Na imagem, dois diagramas de Venn ilustram o contexto da inovação. No primeiro, o contexto do negócio só é possível se houver a intersecção de três fatores: exequibilidade da tecnologia, viabilidade do negócio, e necessidade do cliente. No segundo, três atores interagem para o financiamento do desenvolvimento tecnológico: universidade, governo e empresa. A empresa pode investir junto à universidade por recursos próprios, e o governo arrecada recursos das empresas por meio de impostos. Governo e universidade desenvolvem tecnologia na faixa do TRL 1-6, enquanto as empresas vão do TRL 6-9.

O avanço tecnológico pode ser caracterizado conforme a métrica TRL (Technology Readiness Level), que define o nível de maturidade da tecnologia em desenvolvimento. Nos estágios mais iniciais da pesquisa básica de sistemas com certa complexidade tecnológica, os investimentos são providenciados, em muitos casos, pelo setor público. Nas etapas seguintes, mais especificamente do desenvolvimento do produto ou do processo inovador, as empresas são responsáveis pela maior parte do investimento.

 

Nessa estrutura, parte-se da premissa que a universidade possui laboratórios capazes de apoiar as etapas do desenvolvimento tecnológico que, em sistemas de grande complexidade, exigem estruturas próprias de institutos de pesquisa. Não havendo estrutura disponível na universidade ou empresa, faz-se necessário contratar serviço tecnológico em instituto que tenha laboratórios para simular o ambiente operacional da inovação(5 ≤ TRL ≤ 6).

 

 

A ilustração mostra as faixas no TRL em que cada ente se destaca, com meios para desenvolver a tecnologia naquele nível. A universidade pode desenvolver tecnologias na faixa de TRL 1 a 6; institutos, de 4 a 6; e empresas, de 4 a 9.

 

 

Via de regra, o investimento por terceiros ocorre quando a tecnologia atinge nível seis de maturidade (TRL = 6): após ter atravessado o Vale da Morte. Esse processo de desenvolvimento tecnológico foi proposto no modelo de inovação de segunda geração (Market-Pull), mas sua lógica se aplica aos modelos mais modernos, até a sexta geração.

 

A figura demostra o modelo Market-Pull. O financiamento se inicia alto, com investimento oriundo do governo ou de empresas na Academia e em institutos de pesquisa. Ao avançar da pesquisa básica para aplicada, e dessa para o desenvolvimento da tecnologia e do produto, o recurso se exaure até atingir o nível mais baixo. Eis que surge financiamento de empresas e investidores, começando modestamente na parte de desenvolvimento da tecnologia e do produto e atingindo seu pico no desenvolvimento do negócio. O intervalo mais baixo das duas curvas de investimento, centrado no desenvolvimento da tecnologia e início do desenvolvimento do produto, é o Vale da Morte.

 

Outro modelo básico de inovação, o de primeira geração (Technology-Push), é mais comum no âmbito universitário. Nesse, os pesquisadores se valem do financiamento público para desenvolver pesquisa básica e aplicada. Atingido o nível seis de maturidade, a tecnologia, após patenteada, pode ser tornar uma inovação se licenciada para uma empresa.

 

modelo technology push

 

Com base nessas premissas, pode-se propor um conjunto de características que definem as estruturas de pesquisa e inovação da Universidade de Brasília, em especial, as vinculadas ao Parque Científico e Tecnológico. As estruturas vinculadas ao PCTec são consideradas aptas quando apresentam histórico de desenvolvimento de produtos, serviços e/ou processos com grau de maturidade tecnológico maior ou igual a seis (TRL ≤ 6), materializado por seus recursos humanos e laboratórios especializados. Conforme a Resolução CEPE 54/2022, essas estruturas são: Plataformas Tecnológicas; Living Labs; e Centros Integrados de Tecnologia e Inovação (CITIs).

 

As Plataformas Tecnológicas são estruturas consolidadas de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), multidisciplinares, capazes de apoiar a inovação tecnológica para solução de problemas multidimensionais e complexos, com financiamento majoritariamente externo à UnB. Valendo-se de seus recursos humanos e laboratórios especializados, as plataformas também podem atuar no ensino e em extensão tecnológica nas áreas de domínio em que se estruturam.

 

No Ambiente de Inovação, as Plataformas Tecnológicas são o elo principal de ligação entre startups e empresas de base tecnológica com a infraestrutura formal de PD&I da universidade, podendo apoiar a inovação nos níveis de um a seis na escala de maturidade tecnológica (TRL 1-6) por meio de contratos ou convênios. Oportunamente, as plataformas podem realizar a etapa de demonstração e certificação do produto ou processo inovador (TRL 7-8) quando possuirem competência técnico-jurídica.

 

Pelo avanço contabilizado na escala TRL, os resultados de P&D são transformados em produtos e negócios pela empresa interessada em atuar junto a plataforma, e nesse processo, tanto a plataforma como a empresa podem estimular e apoiar a criação de spinoffs e startups.

 

interacoes plataformas

 

Os Living Labs são ambientes colaborativos de PD&I, capazes de gerar produtos e/ou processos inovadores numa área específica do conhecimento, suportados por laboratório consolidado residente no PCTec, capaz de reproduzir ambientes operacionais e, preferencialmente, realizar ensaios de pré-certificação.

 

Na estrutura de inovação da UnB, os Living Labs são ambientes colaborativos, promotores de inovação em sua área do conhecimento. Nesse ambiente, a estrututura laboratorial e os recursos humanos da universidade formam o alicerce que sustenta atividades de inovação, acomodando usuários da tecnologia e startups do setor industrial. Os parceiros inovam com base na co-criação, elevando a maturidade tecnológica de seus produtos e processos (TRL 1-6), com o living lab executando a pré-certificação (TRL 7-8), reproduzindo o ambiente operacional da tecnologia em desenvolvimento, isso é, as condições reais em que essa será aplicada.

 

interacoes living lab

 

Os Centros Integrados de Tecnologia e Inovação (CITI) são núcleos consolidados de PD&I, capazes de gerar produtos e/ou processos inovadores numa área específica do conhecimento. São financiados, majoritariamente, com recursos de empresa de base tecnológica residente ou associada no PCTec.

 

No Ambiente de Inovação, os CITIs são infraestruturas focadas no modelo Market-Pull, instaladas no PCTec por empresas de base tecnológica. A infraestrutura do CITI deve ser complementar àquelas da universidade, que realiza o desenvolvimento da tecnologia (TRL 5 para TRL 6). A empresa, na sequência, realiza o desenvolvimento do produto e do negócio. Nessa interação, tanto a equipe de P&D quanto a empresa podem estimular e apoiar a criação de spinoffs e startups.

 

interacoes citi

 

 

Referências:

 

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR ISO 16290/2015: Sistemas espaciais - Definição dos níveis de maturidade da tecnologia (TRL) e de seus critérios de avaliação. Rio de Janeiro, ABNT, 2022. *

 

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão nº 54, de 29 de junho de 2022. Define e classifica as infraestruturas de pesquisa e inovação da Universidade de Brasília. Disponível em: <http://pctec.unb.br/documentos/140-documentos/140-resolucao-cepe-54-2022>. Acesso em: 20 out 2022.

 

HÉDER, Mihály. From NASA to EU: The evolution of the TRL scale in Public Sector Innovation. The Innovation Journal, v. 22, n. 2, p. 1-23, 2017.

 

* Acesso às normas ABNT pela Biblioteca Central da UnB: https://bce.unb.br/abnt-colecao/

 

 

Para citar essa página:

 

VERAS, Carlos Alberto Gurgel. A inovação no contexto acadêmico. Parque Científico e Tecnológico da Universidade de Brasília (PCTec/UnB), 2022. Disponível em: <https://pctec.unb.br/inovacao-unb/inovacao-academia>. Acesso em: 20 out 2022.